Neste artigo, trago uma reflexão sobre a história contada a respeito da Inquisição e que, inclusive, tem muitos mitos a serem desmitificados.
A Inquisição ocorreu durante quase 600 anos na história intitulada Idade Média, e rendeu muitas controvérsias, inclusive história falsificada por aqueles que sempre detestaram a Igreja Católica.
Entretanto, na maior parte da Idade Média, não existiu Inquisição. E, para adiantar, a história real está muito distante das falácias contadas em diversos locais sobre esse período da história.
E o objetivo deste post não é, de maneira alguma, tentar defender a Inquisição, ou seja, defender os possíveis abusos que foram cometidos no curso de atuação desse tribunal.
Porém, pretendo colocar as coisas no devido lugar, sem vangloriar a Inquisição, mas também sem demonizá-la, ao ponto de julgar que foi um tribunal totalmente totalitário.
A inquisição começou antes da Santa Inquisição por clamor popular e por Tribunal Civil

Sabemos que nem tudo foram flores nessa época, mas também não é tudo o que dizem por aí. Inclusive, o inquérito policial, ou seja, a investigação minuciosa, é uma herança da Inquisição. Esse tribunal foi um avanço no direito penal.
Além do mais, antes de ser instituída a Santa Inquisição, há relatos de hereges que foram mortos, mais precisamente no ano de 1022, pelo Rei Roberto II, e que não teve nenhuma participação da Igreja Católica.
Nesse caso, foram 13 homens hereges que foram condenados em um tribunal civil por heresia e que posteriormente foram queimados.
Segundo consta a história, o povo levou as autoridades políticas e as autoridades políticas as julgaram e condenaram.
Sabe-se ainda que os dois séculos seguintes, ou seja, os séculos XI e XII e até o início do século XIII, aumentaram os casos em que a população agiu por iniciativa própria.
Isso é, a própria população punia esses homens, por acharem que a Igreja Católica seria muito misericordiosa.
Esse post é bastante longo, caso esteja sem tempo, poderá acompanhar um resumo bastante pertinente em um vídeo no fim desse artigo.
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Objetivo da Inquisição Católica
Então, a Inquisição Eclesiástica, oficialmente, só podemos dizer que ela passa a existir de fato a partir do ano de 1231.
No ano de 1231, o Papa Gregório IX vai constituir um tribunal pontifício, um tribunal da Igreja, cuja função era identificar possíveis heresias, erros de fé e também erros que poderiam, de alguma maneira, afetar a vida social.
Então, tentando controlar a existência desses erros e, inclusive, convencer os hereges, aqueles que erravam, a tomarem consciência do seu erro e a se converter, a mudarem de vida, esse era o grande objetivo da Inquisição.
Foi por isso que a Igreja instituiu a Inquisição, o chamado Tribunal do Santo Ofício.
No entanto, este Santo Ofício seria o ofício de buscar a conversão dos pecadores, não tanto a busca de uma condenação, como geralmente é retratado nos livros, livros de propaganda, filmes etc.
Inclusive, dizem exatamente isso, que a Igreja tinha um desejo de, de alguma maneira, punir aqueles que erravam, o que é falso. A Igreja tinha, na realidade, o desejo de corrigir o erro. O que a Igreja sempre desejou foi, justamente, a vida.
Santo Irineu de León, ele já dizia que a glória de Deus é o homem vivo, é a vida do homem.
Então, se a glória de Deus é o homem vivo, quando a Inquisição, ela se via no dever de condenar alguém e entregar alguém ao braço secular, isto, para a Inquisição, era visto como um fracasso.
A Inquisição, ela não conseguiu desempenhar, então, o seu papel, que era o papel de converter aquele herege, aquele pecador.
Então, é com este olhar que nós devemos situar a Inquisição no seu tempo.
Livro que embasa este artigo
E aqui, já no início desta nossa conversa, eu apresento para vocês uma obra que eu uso como uma base de estudo excelente e vou recomendar a vocês que busquem por ela.
Falo do livro “A Inquisição em Seu Mundo”, do professor João Bernardino de Gonzaga.
Este livro aqui fala muito do contexto histórico da Inquisição, quando ela surgiu, como ela surgiu, por que ela surgiu, o funcionamento do tribunal, e isso já desmonta uma série de lendas, uma série de ideias falsas que nós temos na cabeça.
Inquisição objetivava desmascarar a heresia cátara.
Então, a Inquisição, em 1231, ela é instituída com qual objetivo primário? O objetivo primário foi o seguinte, em 1231 grassava, por toda a Europa, a heresia dos cátaros ou dos albigenses.
Os cátaros ou albigenses eram um grupo de hereges maniqueístas. O maniqueísmo é uma heresia dos primeiros séculos do cristianismo. O maniqueísmo tem aquela ideia de que existe um Deus bom, que é espiritual, e um Deus mau, que é material.
Então, eles acreditam numa espécie de dualismo platônico, o mundo real e o mundo ideal, transplantado para a religião. Isso é o maniqueísmo. E o maniqueísmo acredita que o bem e o mal são forças que se equilibram.
Então, os maniqueístas que se reuniram ali e acabaram dando origem a esta heresia cátara, eles acreditavam que a religião era algo totalmente espiritual. Dessa forma, eles eram contra os templos, eles eram contra os juramentos.
Veja bem, na Idade Média, o juramento era a base da sociedade medieval.
A sociedade medieval se estruturava sobre o juramento. Por quê? Porque não existiam documentos. Por exemplo, como a gente costuma ver hoje em dia, qualquer contrato, qualquer coisa que você vai fazer, você utiliza um documento.
A força do Juramento na Idade Média

Na Idade Média, isso não existia. O que valia era o quê? O juramento, a palavra. Então, é uma sociedade inteiramente construída, edificada sobre a ideia do juramento. Entretanto, a sociedade baseada no juramento.
O casamento, o rito do casamento, na igreja primitiva, nos primeiros séculos do cristianismo, o rito do sacramento do matrimônio era muito simples, na Idade Média ele se tornou um pouco mais complexo.
Por quê? Porque a liturgia da igreja absorveu no seu ritual práticas da sociedade medieval.
Então, o que o homem e a mulher fazem? Eles vão diante do altar e fazem um juramento.
Eles trocam ali as promessas matrimoniais diante do altar, prometendo amor e fidelidade por todos os dias da vida de cada um, até que a morte os separe. E o ritual se mantém até hoje.
A finalidade desse exemplo é para a gente entender o papel que o juramento tinha.
Os ideais cátaros desconstruíam os princípios cristãos católicos.

Então, os cátaros eram contra as igrejas, os templos físicos. A igreja era a construção mais importante da cidade medieval.
Não havia construção mais importante do que uma igreja. Tanto é que os medievais empenhavam todos os seus esforços na construção da sua igreja. E aí, de repente, vêm os cátaros e dizem o quê? Não, a religião é espiritual.
As construções, os templos, não são necessários. O clero, os sacerdotes, a hierarquia da igreja também não são necessários. É uma religião espiritual.
O juramento não se deve praticar. E aí, então, era uma heresia que mexia não só com as verdades da fé, mas afetava a ordem social.
Se você acaba com o juramento numa sociedade medieval, você acaba com a própria sociedade medieval.
Os reis, eles juravam fidelidade em relação aos seus senhores feudais. E os senhores feudais juravam obedecer ao rei. Um rei mais fraco, ele buscava a proteção de um rei mais forte mediante juramento.
Então, olha a ameaça social que os cátaros se tornaram.
Fora o fato de que os cátaros diziam, por exemplo, que as relações sexuais, embora eles mesmos praticassem até orgias, sexo em grupos e tudo mais…
Entretanto, eles diziam que a geração de novas vidas era algo mau, porque você está gerando novos pecadores.
Então, por isso, não era raro você ouvir casos de cátaros que atacavam mulheres grávidas, abriam a barriga, abriam o ventre, extraíam os bebês, matando a mãe e o bebê, porque a mãe estava dando à luz, estava gerando um novo pecador.
Era uma maneira de impedir o pecado no mundo. Então, quer dizer uma coisa absurda. Imagine a sociedade medieval, onde as pessoas tinham muitos filhos, precisavam de muitos filhos para ajudar a trabalhar, para ajudar a própria família.
Verdadeiros objetivos do Tribunal da Inquisição.
Então, esta heresia era uma ameaça sob todos os pontos de vista, o ponto de vista da fé, o ponto de vista da sociedade.
E aí, então, foi pensando em combater esta heresia que o Papa Gregório IX vai instituir no Tribunal da Inquisição, cuja função era?
Pregar a penitência, identificar possíveis hereges, possíveis culpados, realizar um processo com amplo direito de defesa.
Aliás, o sistema jurídico atual bebeu muito dessa herança jurídica que foi desenvolvida aí dentro da Inquisição, dos tribunais da Inquisição.
Inclusive, por exemplo, em países como a Espanha, onde os senhores feudais, onde o próprio rei tinha uma rapidez muito grande em julgar e condenar os crimes, os criminosos.
Quando o Tribunal da Inquisição foi instituído na Espanha, o Tribunal da Inquisição foi considerado brando demais, lerdo demais e nem sempre os reis esperavam o Tribunal da Inquisição. Por quê? Porque é um tribunal mais avançado, mais justo.
A primeira coisa que a Inquisição vai introduzir são advogados de defesa e acusação.
A pessoa tinha direito a ter a sua defesa, a fazer a sua defesa, a apresentar a sua defesa.
O Tribunal da Inquisição estabeleceu como norma, como regra, que se o indivíduo não pudesse, de certa forma, ser acusado com provas a respeito de um determinado crime, provas contundentes, esse sujeito deveria ser absolvido, porque havia uma certa margem para dúvida.
No entanto, se fosse um tribunal real ou um tribunal feudal, certamente o sujeito seria condenado.
Bastava ele ser considerado uma ameaça social, ele seria condenado à morte. E ponto final, a Inquisição, então, introduz o amplo direito de defesa.
O promotor vai promover o debate, a investigação. Os juízes poderiam, por exemplo, dentro do Tribunal da Inquisição, isso é verdade, poderiam recorrer à tortura.
Aí muita gente se escandaliza, fala, nossa, mas é o Tribunal da Igreja, a Igreja incentivava a tortura.
Não podemos cometer o anacronismo
A gente pode até achar absurdo quando a gente ouve isso hoje em dia. Por quê? Porque a gente às vezes ouve uma afirmação sobre a Igreja retirando um fato histórico.
Aqui não se trata de negar que houve tortura, pois, sim, a Igreja usava métodos de tortura.
E daí muitos dizem: como a Igreja, que fala em nome de Jesus, podia torturar as pessoas? A tortura é sempre errada.
Sim, tortura é muito ruim. É muito ruim para a nossa mentalidade hodierna, a nossa mentalidade de hoje. Na nossa mentalidade de hoje, o que acontece?
O mundo evoluiu, o mundo mudou, a nossa mentalidade mudou, os nossos costumes, os nossos hábitos.
Entretanto, todo mundo, hoje em dia, em sã consciência, vai achar absurdo você torturar alguém. Ponto final.
Esse é um avanço que as nossas sociedades, a nossa cultura, alcançou. Muito bem. Só que para você fazer uma análise justa da Inquisição, você não pode cometer anacronismo.
O que é o anacronismo histórico? É você julgar o passado com os critérios do presente. Isso você não pode fazer. E se você fizer, vai cometer algum tipo de injustiça.
Porque você está cobrando daquelas pessoas um nível de consciência e entendimento da sociedade que elas simplesmente não tinham. E aquilo que hoje, para nós, faz sentido, naquela época, não fazia sentido nenhum.
Então, qual é a maneira correta de ler os fatos históricos? Através da história comparada.
História comparada.

Vamos fazer um exercício mental aqui simples, fácil, de história comparada. Basta você pensar no seguinte. Bom, a Inquisição torturava? Sim, torturava.
Isso é um fato. Existem documentos que comprovam que a Inquisição torturava, sim, existem muitos documentos, as próprias atas da Inquisição.
Basta pegar os próprios documentos da Inquisição que você já comprova que existia tortura.
Mas como você tira esse absurdo da sua cabeça? Você pega todos os tribunais da época e compara.
Tá bom, a Inquisição, que era da Igreja Católica, usava tortura. Quem mais usava? Na época, todos os tribunais usavam esse método.
Não tinha um tribunal europeu que não usasse tortura. Por quê? Porque isso era uma herança do Império Romano.
Então, a Inquisição fazia isso? Fazia. Uma questão cultural, uma herança cultural. Quem mais fazia? Todo mundo.
Então, era escandaloso a Igreja torturar? Na época, não. Por quê? Porque todo mundo fazia isso. Era um costume socialmente aceito.
Só que isso não adianta. Se a pessoa não estiver disposta a aprender, você pode abrir a cabeça da pessoa e colocar isso dentro, que a pessoa vai continuar dizendo, mas agredir alguém, torturar alguém é contra o Evangelho, é contra os valores.
Tá bom, mas isso é uma consciência que nós temos hoje. Onde está escrito nos Evangelhos que os tribunais não tinham autoridade para torturar um condenado? Ou um réu? Não existe na Sagrada Escritura.
As Sagradas Escrituras incentivavam a punição para quem praticava crime.
Porém, o que existe na Sagrada Escritura é um incentivo.
Inclusive, de São Paulo, dizendo o seguinte: se um sujeito é criminoso e ele aceitar a pena, mesmo que seja a pena de morte, resignadamente, isso pode servir para a salvação do próprio condenado.
Dessa forma, a igreja, ela nunca disse, os evangelhos nunca disseram, a tradição da igreja nunca diz que não se podia torturar.
Ou seja, a questão de tortura, a questão de pena de morte, a doutrina da igreja, o catecismo da igreja, os santos padres, eles dizem que não compete à igreja decidir, mas compete aos governos.
Então, é o parlamento dos governos que deve estabelecer o que deve ser feito e o que não deve ser feito.
Assim sendo, naquela época, dentro daquela lógica de sociedade, quem aceitava tortura? Todo mundo. Aliás, a exceção seria achar alguém que não aceitasse tortura. Todos os tribunais utilizavam.
Inclusive, o Tribunal da Inquisição era considerado brando demais, por quê? Porque as torturas nos tribunais reais e nos tribunais feudais não eram brincadeira.
Regras do Tribunal da Inquisição.
Era uma coisa assim que levava a pessoa ao limite da morte. Agora, o Tribunal da Inquisição tinha uma regra.
Inclusive, o livro citado acima fala disso. E tem um outro livro, uma outra obra muito boa, do Cristian Iturralde chamada Inquisição, Tribunal da Misericórdia, em que o Iturralde conta justamente o que estou narrando.
Entretanto, como funcionava a tortura? Bom, um sujeito ali, o réu, ele poderia ser torturado por, no máximo, 15 minutos, na presença de um médico.
E, portanto, tudo aquilo que ele falasse sobre tortura tinha que ser anotado e, 72 horas depois, em condições normais, não estando sob tortura, aquilo que o sujeito disse sobre tortura tinha que ser confirmado sem estar sob tortura.
Se o sujeito dissesse algo diferente daquilo que ele disse sobre tortura, a prova era considerada inválida.
Esse era o critério do tribunal da inquisição. Então, é um tribunal muito mais justo do que os outros tribunais.
Existia uma inquisição régia, que geralmente os reis, se eles consideravam alguém criminoso, às vezes executavam sumariamente, sem julgamento ou com julgamento muito mal feito.
No entanto, a igreja, quando institui a sua inquisição, pensava no quê? Em combater os cátaros, a heresia dos cátaros.
E qual era a ideia da igreja? Converter aqueles que estavam no erro, estavam na heresia.
Qual era a forma da Igreja conduzir a inquisição?
Os inquisidores chegavam a uma determinada cidade, eles pregavam um sermão penitencial.
Além do mais, davam um tempo para que as pessoas que estivessem em alguma situação irregular, algum crime, se apresentassem e se acusassem diante do tribunal da inquisição.
Então, se a pessoa se acusasse, ela seria instruída. Geralmente, eram os padres dominicanos que cuidavam dos tribunais da inquisição, eram mais os dominicanos e franciscanos.
Até existiam tribunais da inquisição na mão de outras ordens religiosas, mas geralmente eram dominicanos e franciscanos.
Então, geralmente, eles pregam o sermão, falam para as pessoas se denunciarem.
Então, o que era feito com essa pessoa? Uma instrução. Então, os padres, os frades dominicanos ou franciscanos instruíam a pessoa, mostrando o erro, mostrando o pecado, mostrando onde estava ali a falha.
E uma vez que essa pessoa reconhecesse a falha, ela não era condenada. Ela não ia para a fogueira, não ia ser morta. Ela teria a sua pena. Só que esta pena, em geral, era uma pena penitencial.
Era uma pena temporal a ser cumprida. Então, o sujeito se confessava e, geralmente, ele fazia alguma penitência pública.
Então, por exemplo, era muito comum que pessoas que cometiam heresias usassem vestidos de sacos com pinturas, com desenhos de demônios na sua roupa, dizendo que a pessoa estava na heresia e que ela poderia cair no inferno.
Essas pessoas colocavam uns chapéus que eram cônicos, só com um buraco para os olhos e para o nariz, ali para poder respirar. E a pessoa vestia esse saco, que era chamado de sambenito. O sambenito seria o saco bento.
Os padres benziam esse saco, a pessoa se vestia, a pessoa ficava descalça e, geralmente, por exemplo, a penitência era pública.
A verdade sobre a Inquisição Católica.
A Inquisição mais absolveu do que matou. Isso é um fato. Onde a gente pode perceber isso?
Em qual fonte histórica a gente pode se basear? Existe uma obra que é fundamental para entender a Inquisição, só que ela não é publicada em língua portuguesa, infelizmente.
É uma obra de quase mil páginas, que é vendida pela editora do Vaticano, a Editora Vaticana.
Essa obra se chama L’inquisizione. Atti del Simposio internazionale. São as atas do simpósio sobre a Inquisição, que foi um simpósio internacional convocado pelo Papa João Paulo II no ano 2000.
Foi nessa ocasião na qual o Papa abriu os arquivos secretos do Vaticano sobre a Inquisição para os 30 maiores especialistas em Inquisição.
Muitos deles ateus, agnósticos, protestantes e católicos também, naturalmente, obviamente.
Então, esse pessoal todo se debruçou sobre a documentação do próprio arquivo da Inquisição e depois eles publicaram os resultados disso.
Então é interessante, a Igreja não tem medo da sua história, ela não tem medo da verdade.
É preciso entender a inquisição no seu contexto.
Entretanto, o que essas atas do simpósio sobre a Inquisição revelaram? Que a Inquisição mais salvou do que matou. Ela salvou muito mais gente.
E é o que eu falei no começo, matar alguém, queimar alguém na fogueira, era um fracasso para a Inquisição.
Por que a Igreja teria esse sadismo de querer acabar com a vida das pessoas, com a vida dos hereges, se a glória de Deus é o homem vivo?
Era uma derrota. Por quê? Porque a pessoa que era queimada, que ia para a fogueira, é o sujeito que ele escolheu viver de maneira impenitente.
Ele escolheu. Ele falou: eu não quero. Eu recuso. Eu não quero saber do perdão de Deus, do perdão da Igreja. Aí, não tinha o que fazer. A Igreja entregava a pessoa ao braço secular.
Na Inquisição, quem não se arrependia era entregue ao braço secular.
E aí, o braço secular, as autoridades políticas, civis do local, onde o processo inquisitorial ocorria, executavam.
Dessa maneira, uma outra coisa que é incorreto dizer: que a Igreja queimava as pessoas. A Igreja não tinha poder para isso.
Na verdade, Igreja e Estado, eles estavam unidos, pelo menos, em torno das mesmas ideias, mas eram duas espadas.
A Igreja tinha a espada da pregação e dos sacramentos, e a outra espada a Igreja entregava nas mãos dos reis e dos senhores feudais, que é a espada temporal.
O objetivo da entrega da espada temporal para os Reis era para que lutassem, para que defendessem a lei, o povo e o território.
Dessa forma, a Igreja não tinha poder para interferir na forma de ação do poder temporal. Não. A Igreja não tinha poder para isso.
A Igreja simplesmente entregava para o poder secular e o poder secular é que ia ponderar. O que é melhor? É melhor queimar? É melhor enforcar? E aí, isso variava também de acordo com a lei, de acordo com a cultura local.
A Inquisição Romana, por exemplo, tinha uma preferência maior pela prisão perpétua, pela prisão domiciliar, por outros tipos de punição. Já a Inquisição Espanhola preferia queimar.
Portanto, era questão cultural. Aí tem gente que fala: mas a Igreja era culpada, porque ela estava unida ao Estado, era conivente.
Ou seja, a igreja não matou, mas entregou na mão do Estado, sabendo que o Estado iria matar.
Mas esta era a lógica daquela sociedade, daquela época. E o Estado, os Reis eram formados numa mentalidade de que eles deveriam se preocupar pela salvação das almas do seu súdito.
Quando é que começou a sumir essa preocupação do rei com a salvação das almas? No século XVII, depois da Reforma Protestante.
Mudanças a partir da Revolução Protestante.
Aí começa a surgir essa ideia de que o rei deve cuidar da política e não mais da religião.
Mas até então, o que se pensava mesmo nas nações protestantes? Se um rei era protestante, o que ele pensava? Eu tenho de zelar pela salvação das pessoas que estão aqui, que são meus súbditos.
Então, os reis protestantes ou os reis católicos, eles estavam, sim, preocupados com religião.
Só que aí, depois do século XVII em diante, esta situação começa a se modificar, começa a se alterar. Então, a igreja entregava na mão do braço secular.
Ela sabia que a pessoa seria punida. Só que isto, em primeiro lugar, não é contra os evangelhos e não é contra a doutrina da igreja. A igreja não proíbe que os estados executem os criminosos.
E, naquela época, um herege não era simplesmente uma pessoa que bagunçava a fé, a crença das pessoas. Ele era uma pessoa que provocava uma desagregação social. Esse exemplo era a heresia cátara.
Saiba mais lendo o livro A Inquisição em Seu Mundo, no qual este artigo foi embasado. Clique aqui.
Assista ao vídeo que é um resumo da Inquisição feita pelo Professor Felipe Aquino. Vale a pena assistir!
Livro do professor Felipe Aquino, “Para entender a Inquisição”.

Segundo o livro do professor Felipe Aquino, a Inquisição é um dos temas mais usados para criticar a Igreja Católica.
No entanto, poucos conhecem de maneira real, ou seja, poucos estudam com eficácia, e por isso, na maioria das vezes, é mal analisada e interpretada.
Isto é, julgam fora do contexto social, cultural e religioso da época.
E, segundo o Professor Felipe Aquino, este método é o mais equivocado em termos de se fazer história.
Sugiro ler esta obra para entender de fato o que realmente ocorreu na Inquisição. Por favor, não fique apenas preso àquilo que transmitem alguns livros e até nas escolas e universidades. Pesquisem a fundo.
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